domingo, 2 de maio de 2010

Improbidade contra si mesmo

Mesmo chegando, em 11 de setembro, aos 20 anos de atuação com leis bem elaboradas, que abrangem desde a simples relação do fornecedor e cliente, até a sofisticada prática mercadológica do “Pool” – situação em que empresas, com um relativo destaque no mercado, simulam uma fusão, com a finalidade exclusiva de afugentar concorrentes do mesmo seguimento –, o Código de Defesa do Consumidor, ainda assim, parece ineficiente. Essa ineficiência só seria sanada se em algum lugar do código punissem o próprio consumidor por “inadimplência perante os seus direitos”, ou quem sabe, “improbidade contra si mesmo”.

Já é velha conhecida, a fama de telespectador passivo do brasileiro quando o assunto é a luta pelos seus direitos como cliente. Apesar de uma fatia generosa do corpus legislativo brasileiro dedicar-se exclusivamente a proteção do consumidor, a falta de ciência dos seus direitos como tal e, por muitas vezes, até a repulsa em se submeter aos quase sempre desgastantes processos burocráticos que envolvem uma ação na justiça, fazem com que o consumidor sofra cada vez mais com os abusos de empresas privadas.

Recentemente passamos por uma situação que parecia atípica a nossa realidade passiva atual. Vimos todos nossos vizinhos, parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos, todo mundo mesmo, juntarem-se em um coro uníssono de indignação contra as cobranças abusivas da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), na segunda quinzena de maio. Seria esse um erro de leitura dos relógios medidores de energia, como afirmou recentemente o superintendente comercial da Coelba, Ricardo Galindo, ou uma tentativa frustrada de apunhalar o consumidor em seu berço esplêndido e passivo?

As investigações sobre o caso se seguem, porém essa união em prol de uma mesma causa não é fruto exclusivo de um momento de alerta do povo brasileiro para com os seus direitos. É certo que a atenção dada pela a mídia ao assunto influenciou, e muito, os indignados com a cobrança abusiva. Tendo em vista que isso não teria tamanha proporção sem o intermédio dos sítios noticiosos, podemos afirmar que ainda vivendo em um inabitado deserto de amparo a nós mesmos, onde precisamos da mídia discursando a nosso favor para que tomemos alguma atitude sobre o que é de nosso respeito.

Sábia foi a poeta Elisa Lucinda ao transparecer em um de seus poemas o discurso mais comum entre os brasileiros, pronunciado por um outro após o esboço de sua fuga platônica da “inércia conivente” com a roubalheira no Brasil, que diz: “Deixe de ser boba desde Cabral que aqui todo mundo o rouba”. Talvez seja essa cumplicidade velha e fedorenta, escondida embaixo dos nossos tapetes ancestrais, uma das principais razões para acharmos que não valha mais a pena lutar pelos nossos direitos. Mas é verdadeira também, a afirmação final do poema de que essa passividade pode ser extinta, só depende de nós.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cortem-lhe a cabeça!

Após muita confusão e buscas incessantes por sessões que não estivessem lotadas, acabei indo ao UCI Aeroclube, numa sessão das 22h30, assistir Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 2010), o mais novo longa do aclamado diretor Tim Borton.

Dessa vez, involuntariamente (porque não premeditei isso), fiz um processo diferente. Entrei no cinema sem ter lido nenhuma sinopse ou matéria sobre o filme, nem muito menos assistido ao trailer, só sabia que era um filme do Tim Burton, com o Johnny Deep atuando e só. Imaginava até que fosse uma reprodução fiel do grande sucesso de Lewis Carroll. Tanto que nos primeiros minutos ficava me perguntando que história era aquela de casamento.

Pois é, Burton trouxe para a telona uma Alice com dezenove anos, treze anos mais velha que a Alice do filme original. Nessa nova aventura, a loirinha de vestido azul embarca novamente no mundo subterrâneo, em busca de um “tempo” para pensar sobre os rumos que sua vida está tomando. E o bacana da história de Tim é que nessa viagem Alice completa seu ciclo e passa a ter certeza de que todos os excêntricos personagens do País das Maravilhas são reais e não apenas frutos de sua imaginação.

Mas você quer saber o que achei do filme, né? Uma delícia estética e visual. Fiquei maravilhado com os efeitos, e com a interação entre atores e animação gráfica, que, em minha sincera opinião, beiraram a perfeição. Como esperado, destaco o que já era destaque: a atuação de Johnny Deep, na pele do Chapeleiro Maluco. Dei boas risadas com seus momentos de furor.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Luciano Souza: Do Rock ao Jazz [part.1]

O perfil de uma lenda da guitarra, que ainda vive no subsolo da cena musical baiana.

Encontrei Luciano Mário Soares Souza, debruçado sob as grades da varanda de sua casa, na Rua Prudente de Morais. Acabara de voltar da mercearia que costuma visitar quando lhe acabam os cigarros e, por estar olhando para frente, distraído com o movimento dos carros, nem percebeu quando me aproximei. Provavelmente havia recebido o recado informando meu atraso de vinte minutos, que deixei com sua mãe, Nair Soares Souza, com quem divide o andar de cima da casa n.46, mais seus dois irmãos, Ricardo Soares Souza e Cláudia Soares Souza.

Quem o via naquela sacada, nem de longe imaginava que aquele senhor de 53 anos, moreno, grisalho, meio careca, com barba e cabelos por fazer, trajando uma camisa de botão, branca, aberta até o peito, uma bermuda preta surrada, protegendo os pés com um par de sandálias velhas e pinçando um cigarro entre os dedos, já tenha sido, em meados da década de 1970, um dos guitarristas mais requisitados do Brasil. Nessa época, dividiu os palcos com nada mais nada menos que, Hermeto Pascoal, Art Blakey, Nico Assumpção, Lanny Gordyn, Gilberto Gil, Raul Seixas, Arnaud Rodrigues, Moraes Moreira, Luiz Melodia e Dominguinhos, isso só para citar alguns.

“Baby” ou “Luguita”, como atende aos mais chegados, assumiu a guitarra solo do seu primeiro grupo musical aos sete anos, “Os Príncipes do Yé Yé Yé”, durante a época efervescente da jovem guarda e teve sua formação definitiva completada por Ricardo Souza na guitarra base e no vocal, Pepeu Gomes no baixo e vocal, Jorginho Gomes na bateria e Leif Erickson nos teclados e vocal.

“Luciano!”, o interrompi, avisando minha chegada. Ele dobrou o olhar na minha direção e apressou-se em vir ao portão me receber e pedir que entrasse. Fui apresentado à dona Nair e Ricardo, que nos aguardavam na sala de estar. O ambiente era composto por uma mesa de mármore branca, quatro cadeiras de ferro tubular com forro branco, uma mesinha de centro com um jarro, sem flores, uma outra mesinha onde ficava o telefone e uma estante de duas prateleiras, que abrigava um televisor antigo, mas ainda funcionando. A direita da estante havia um sofá de dois lugares que se encostava à janela da varanda e era forrado com uma toalha verde desbotada que, pela quantidade de furos provocados por bitucas de cigarro, insinuava um leve descaso do único fumante da casa e denunciava a ausência, proposital, de um cinzeiro na casa de dona Nair.

Pediu que me acomodasse no sofá e sentou-se ao meu lado, sob os olhares atentos de sua mãe – que sentava à mesa, logo em frente – e de Ricardo que já estava sentado em uma cadeira, do lado oposto a estante do televisor, próximo a segunda janela que completava a sala de onde dava para ver a cozinha e o corredor, que ligavam acesso ao banheiro e aos dois únicos quartos da casa.

Continua...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Brincando com o alto contraste

Resolvi tratar umas fotos que fiz no ano passado para a disciplina de Fotojornalismo. Gostei dos resultados em alto contraste e resolvi postar aqui pra saber da opinião de quem por aqui passar.

As fotos abaixo são da Feira de Sete Portas e de Sr. Macaquinho, como é chamado pelos amigos. Uma figura ilustre da feira que trabalha vendendo flores, mas é famoso mesmo pela quantidade de filhos, que agora me foge a memória mas passam dos 20.